segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

um ano novo de tentar


Tenho me perguntado nestes dias de festas familiares, preguiça e comilança: o que escrever como texto de final de ano para postar no blog?

Sempre vi esta época (dias que sucedem o Natal e antecipam o ano novo), como um ‘estado liminal’, ou seja, algo que não pertence nem a um ano nem a outro. Uma espécie de limbo, onde as pessoas repassam seu ano que está por acabar, tentam se aproximar mais das outras, correm atrás do tempo perdido, viajam, ou ficam como eu: torcendo para que o ano acabe logo e fazendo muitos planos ou pelo menos imaginando como será o próximo. Enfim, tentando viver entre uma caminhada sem rumo, uma tentativa de leitura, uma checada no e-mail (que nessa época fica vazio) e um programa chato na televisão (alguém já tentou assistir à TV nessa época??).

Pensei então: vou escrever um texto falando sobre coisas boas que aconteceram em 2008 e outras melhores para tentar alcançar no ano que se aproxima, algo que traga uma visão positiva a respeito da vida e das coisas que passaram, algo como ver a ilusão do tempo tal qual um alento para tocar em frente os 365 dias que estão por vir...

Mas veja bem, este foi, ao menos para mim, um ano extremamente produtivo, cheio de alegrias, pessoas especiais e projetos conquistados que eu poderia ficar listando interminavelmente aqui (como a iniciativa em criar este blog, por exemplo). Mas que termina precisando muito mais do que um simples texto bonito, que possa ser reproduzido em cartões de ano novo.

Este ano termina com apenas um desejo: de que 2009 ‘dê conta de dar conta’ de todas as conquistas realizadas em 2008. Por isso, meu desejo é que esse seja um ano de perseverança!

Perseverança em tentar sempre ser bom no que se faz, em manter as pessoas perto de si e em saber conquistar muitas outras mais. Perseverança em continuar desenhando escritas em um blog e (por que não?) conquistar mais leitores. Perseverança em acordar todos os dias com a certeza de que se está no lugar certo e que a hora certa só depende de você. Perseverança em aceitar desafios e em ser perseverante ao enfrentá-los. Perseverança em repensar seus sentimentos, em continuar olhando o pôr-do-sol e lembrando de alguém especial, em descobrir constantemente seus olhos, em saber esperar. Perseverança em entender a vida como se ela fosse um grande jogo em equipe e que sem a ajuda de outras pessoas, nunca se chega a um bom resultado final. Perseverança em continuar sonhando com pelo menos uma parte do mundo melhor, em continuar amando as flores e o inverno, em não deixar de comprar pizzas gigantes mesmo arrependendo-se depois, em tentar encontrar o momento exato de parar. Perseverança em ver a beleza de um encontro, a sinceridade de um abraço, a cor de um beijo, a sensibilidade de um toque, a presença que pode estar invisível, mas não menos presente em uma noite de luar. Perseverança em tentar sempre escolher o momento certo, a roupa certa, a palavra certa, sabendo que se ela não for exatamente a que você buscava, você ao menos tentou. E isso é o que importa. Afinal, perseverar não é exatamente isso: apostar constantemente, mesmo sabendo que há a possibilidade de não acertar? E que isso não diminui em nada a grandiosidade de tentar. Enfim, de perseverar.


Feliz Ano Novo a todos...


Fonte da imagem: http://pensar-im.blogspot.com


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

as mãos que tocaram meu coração

Minha tarde de quinta-feira foi surpreendida com o melhor reconhecimento que um professor pode receber - conferir que para seus alunos ficou, muito além de fórmulas chatas e conteúdos vagos, o mais belo e nobre sentimento que a educação é capaz de deixar como herança: O CARINHO.

O texto abaixo foi produzido pela turma 12 de Pedagogia da UFSM, a qual eu tive o prazer de lecionar durante o segundo semestre de 2008...

E eu que dizia que jamais seria professor!

"Do que um artista é feito?
Seria da beleza em cores de um arco-íris rasgando o céu?
Ou seria da melancolia que se derrama nas tardes gris de um outono qualquer?
O verdadeiro artista não é aquele que pauta o seu fazer no amálgama de certezas vãs,
Mas sim, aquele que faz da dúvida a sua matéria prima.
A arte é uma viagem, é poder se abrir ao inusitado,
É deixar a porta sempre aberta para a imaginação entrar.
É numa folha qualquer desenhar um sol amarelo, azul, vermelho...
É com cinco ou seis retas, facilmente fazer um castelo...
É ir voando...
A arte não está no ponto de partida, tampouco no ponto de chegada.
A arte está na própria aventura de viajar, trilhando vários caminhos possíveis e, por que não, impossíveis?!
A arte pode ser clássica, gótica, estética, antiética, psicodélica, enfim...
Pode dizer tudo, pode não dizer nada, e ainda assim, ser arte.
Pode ser a tentativa de o artista reconhecer no mundo o que há em si e,
O contrário também pode acontecer!
A arte pode estar na boniteza de dias de sol,
na redondice das pré-históricas Vênus de Willendorf,
no ar enigmático de Monalisa, ou até mesmo na rudeza de metais retorcidos.
A arte pode ser sentida à flor da pele, pode ser sentida em carne viva.
A arte pode ser o velho, o novo, o velho que superou o novo, portanto, velho de novo!
A arte de ensinar está no exercício de despertar em nossos alunos olhos brincalhões,
E não olhos e mãos adestrados,
Treinados mecanicamente para tão-somente contemplarem ou construírem objetos passo-a-passo.
A arte pode atravessar o tempo, ou pode, simplesmente,
Ter a duração de um vão momento!
Essas tardes de quinta-feira onde discutimos e elaboramos conceitos acerca da arte podem até terem sido efêmeras, porém,
Indeléveis serão as marcas deste aprendizado em nossas vidas!
E, com certeza, sabemos quem é esse agente metamorfoseador que ensejou tal mudança!
Da turma 12 de Pedagogia, de corpo, alma e coração, o nosso muito obrigado por ter despertado em nós a curiosidade, por ter "desenquadrado" o nosso olhar, enfim, por ter nos enriquecido culturalmente, impregnado nossos seres com arte!"
Imagem: Eu e a turma 12, junto da pintura das mãos que tocaram meu coração.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

#pausa#


Depois de cinco meses e vinte e sete dias com o blog ativado, paro pra pensar:
'-Afinal, por que, pra que e para quem publicar meus desenredos de ver e ler?'
Encontro uma (possível) resposta na fala de Lya Luft, do livro 'Perdas e Ganhos';

"Por isso escrevo e escreverei: para instigar o meu leitor imaginário - substituto dos amigos imaginários da infância? - a buscar em si e compartir comigo tantas inquietações quanto ao que estamos fazendo com o tempo que nos é dado."

Para fazer sentido é preciso de algo além de imaginar?

Imagem: Cristian Mossi


terça-feira, 9 de dezembro de 2008

inusitado

As melhores coisas da vida são aquelas que fazemos por merecer, mas que não esperamos!

Fonte da imagem: http://sombradeumviajante.blogspot.com

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

melodia secreta


"Pra falar verdade, às vezes minto
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto
Pra dizer as vezes que às vezes não digo
Sou capaz de fazer da minha briga meu abrigo
Tanto faz não satisfaz o que preciso
Além do mais, quem busca nunca é indeciso..."

(Cuida de mim, O Teatro Mágico)

Fonte da imagem: http://um-buraco-na-sombra.netsigma.pt

o começo do fim


Eu e meus dilemas com o tempo...
Hoje atualizei a última folha do calendário 2008 (aliás, um dos presentes mais lindos que ganhei esse ano)!!
Que será que vem por aí?

Imagem: Cristian Mossi

um (meu) lugar


Imagem: Cristian Mossi

domingo, 30 de novembro de 2008

amor perfeito

Pra ser amor perfeito, tem que gostar e falar da lua, do pôr-do-sol, da chuva e do arco-íris. Tem que me ensinar o nome dos pássaros, dormir feito criança e me contar coisas sobre decoração e regras de futebol. Tem que saber brincar, dar risada, mas não ter vergonha de às vezes também chorar. Tem que amar contornar meu rosto e entender meu amor nas entrelinhas. Tem que sentir saudades e matar minhas saudades. Tem que fazer de cada instante, mesmo que de longe, inesquecível. Tem que gostar de coisas e pessoas simples e sonhar com uma casa com quatro cachorros e um vaso de estrelícias, confiando que para ser feliz realmente não é preciso muito mais que isso. Tem que cuidar de mim e dizer que meu sorriso está sempre nos seus olhos. Tem que me desenhar com poucos traços. Tem que ouvir música e quando dormir sonhar comigo, mas não esquecer nunca da difícil arte de sonhar acordado. Tem que discordar de algumas de minhas opiniões e atitudes, sabendo se colocar sempre com delicadeza. Tem que amar os amigos. Tem que preferir jujubas a sorvete, tem que não ter muitas certezas sobre o futuro, tem que acreditar em Deus a ponto de me fazer também acreditar. Tem que ter medo de filme de terror e me abraçar bem forte nas cenas mais assustadoras. Tem que me mostrar que não sou tão só quanto eu imaginava ser, tem que me esperar ansioso e me deixar ansioso quando está por chegar. Tem que trazer flores e me fazer ver flores em todo o lugar. Tem que entender que pra ser perfeito não é preciso a perfeição. Mas tem que conseguir fazer todas essas coisas que parecem tão difíceis por na verdade serem fáceis demais.

Imagem: Flor conhecida por Amor Perfeito - Fonte: http://www.flickr.com

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

jingle bells

Já chegou o Natal no 9003.
E com ele uma sensação de dever cumprido misturada ao cansaço do corpo e da alma.
Um gostinho amargo de ressaca, normal quando a festa é muito boa e muito movimentada...

Imagem: Cristian Mossi

amarelo-ocre

Choveu.
Mas choveu tão bonito que até me lembrei de um tempo em que chover não era também chorar...

Imagem: Cristian Mossi

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

outro lugar

Tem momentos, tão densos e suaves, que só o coração é capaz de lembrar. Presenças que, quando desprovidas da mágica sensação do toque, significam de outra forma a cama vazia, o rastro de flores, a falta do olhar. E passam a transbordar de desejos a face de quem ama, derramando lágrimas quentes de esperança pelo novo momento de se encontrar. Tem momentos que a ausência é tão grande que chega a ser linda. Então me fio pelo sol que se põe sereno e dá lugar a lua resplandecente no céu azul-turquesa, entristecendo e tornando plenas todas as almas que sabem ser também profundas. Tem momentos que eu nem sei explicar, e talvez nem o precise, mas que ficam para sempre. Ocorrendo pela eternidade a fora numa fresta de tempo feliz. Num outro lugar

Imagem: S2

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

ainda os mil tentáculos

Às vezes o que me assusta, não é a crença na (in)verdade alheia, mas nas minhas próprias (in)verdades. Ou na dificuldade que tenho de acreditar em mim mesmo, no que sou capaz, nos laços que se sustentam sem esforço ou destreza.
De outrora já disse que minha mente de menino prefere sempre acreditar que há monstros com mil tentáculos vivendo embaixo da minha cama, porém quero conseguir que eles permaneçam trancafiados em seu calabouço escuro e profundo.
Não quero ser também a imagem idealizada que por vezes criei ainda fora de mim.
Quero ser este assim, que erra, mas logo acerta. Que por vezes se esconde, mas logo se mostra. Que se deixa levar pelos dias com uma pitada de estranhamento e entusiasmo para dar sim, sempre que necessário, a cara a tapa.
Mas não quero entristecer o mundo com minhas não-coragens.


Fonte da imagem: http://abyssusabyssuminvocat.zip.net

domingo, 9 de novembro de 2008

novo tempo

Hoje, por alguns instantes, procurei Deus dentro de mim. Encontrei-o soterrado por entre escombros de vaidades tolas e vontades findas. Questionei-me se não seria a hora de inventar-me menos rude, mais atento ao outro, menos apressado, mais pacífico. Estas desconhecidas qualidades em tempos de profundo egoísmo e falta de delicadeza.
Hoje, por alguns instantes, tive dificuldade em concentrar-me nos meus sonhos, talvez por percebê-los muito centrados numa curta margem de desvio pelo próximo que atenta os meus passos.
Hoje, por alguns instantes, percebi que o tempo passou muito rápido e que pouco olhei para os lados nesse período, senão para posicionar-me friamente e deixar claro meus próprios parâmetros, mantendo-me sem desejar uma maior fluidez de todas as coisas.
Hoje, não sei exatamente o porquê, ao menos desejo que inicie um novo tempo em mim.

Fonte da imagem: http://limitenoceu.blogspot.com

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

abismos

Volta e meia os abismos. Aqueles de outrora que parecem sempre ter o mesmo nome, a mesma dimensão, a mesma cor mórbida que se enfadonha como que num passe de mágica e faz estranhar o que até então era impossível de ser ferido. Tola e desonesta esperança... E abrindo minha pele com a velha lâmina, torturando-me lentamente, procurando as causas das marcas e rescindindo tudo o que sinto, não quero pensar que os motivos estão dentro de mim. E tudo toma outras cores (im)possíveis. Desconhecidas, porém tão familiares. Isso também é tudo e é só.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O que eu quero dizer...

Te amo.
Mas quando digo que te amo não falo assim da boca pra fora, como um vício de linguagem, mera tautologia...
Quando digo que te amo estou dizendo que cada movimento seu pra mim é como um passo de dança, que me encanto sempre com seu jeito doce de descobrir o mundo todos os dias e que me apaixono cada vez mais quando você me olha rapidinho, encolhe os ombros e abre um sorriso que ilumina tudo que está ao seu redor. Digo que meu coração quase salta pela boca minutos antes de encontrar com você, que ele para de bater por alguns segundos quando você me beija e que chora baixinho quando novamente você tem que ir embora.
Te amo.
Mas quando digo que te amo estou dizendo que você para mim tornou-se único. Precioso. Que sinto falta do seu gosto, do seu cheiro, da sua voz rouca e preguiçosa quando acorda ao meu lado de manhã e me deseja um bom dia como se aquele fosse o primeiro e o último. Quando digo que te amo estou dizendo também que ao dormirmos juntos, acordo de sobressalto várias vezes durante a noite para me certificar que sua presença não é sonho e que nada me conforta mais ficar olhando você dormir silencioso e imaginar que aquele momento embaixo do cobertor é só nosso e que tudo ao meu redor poderia se acabar naquele instante.
Te amo.
Mas quando digo que te amo não estou pronunciando isso esperando que você me responda imediatamente as mesmas palavras em troca, mas que entre nós fique suspenso alguns segundos de silêncio e que nossa memória nos leve para o dia em que tivemos a sorte de nos encontrarmos e nem imaginávamos o quão importante seríamos um para o outro. E que seja possível nossos olhos sorrirem leves, confiantes, esperando o tempo em que nem seja preciso dizer algo para sabermos o quanto nos amamos.
Te amo.
E isso é tudo e só.

Fonte da imagem: http://www.aredenarede.com/

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

palavra-imagem



>Parte do monumento erguido em nome das vítimas do Holocausto - Montevideo/Uruguay

leve

Que o breve
seja de um longo
pensar.
Que o longo
seja de um curto
sentir.
Que tudo seja leve
de tal forma
que o tempo nunca leve.

(autor desconhecido)

p.s. Essa mensagem está num cartão que ganhei de aniversário e a imagem que a acompanha é composta por fotografias que tirei no jardim da casa de minha avó num dos primeiros dias da primavera.

sábado, 25 de outubro de 2008

delicadeza

Do amanhecer ao pôr-do-sol, flores acompanhadas por lindas palavras iluminaram o dia do meu aniversário e me encheram de esperanças, vontades e sentimentos quase inomináveis...
De uma delicadeza que se desenha cada vez mais doce e clara, trazendo consigo marcas que nem o passar dos dias pode levar, me fizeram pensar (e querer acreditar) que elas por si se vão, seguindo o curso da natureza, mas deixam sementes que trilham caminhos para uma longa história que acabou de iniciar!

Imagem: Cristian Mossi

desenredo de aniversário

Sempre pensei no aniversário como uma espécie de ano novo, data que as pessoas convencionam para acreditar que, por algum motivo, os ciclos se renovam. Tempo de passar a limpo as velhas angústias e de limpar aquelas ‘poeirinhas’ que geralmente ficam pelos cantos. Tempo de olhar-se para dentro e descobrir os caminhos serpenteantes que a vida construiu dentro da gente.
Hoje, completando o meu ‘um quarto de século’ (outra convenção humana), percebo que já fiz tanta coisa, já andei por tantas estradas e cruzei com tantos outros que levaram um pouco de mim e deixaram um pouco deles, que a impressão que tenho é a de ter vivido muito mais que somente 25 anos! Contudo, quando me pego recluso em mim mesmo (olhando para aqueles lugares que geralmente deixamos com o passar dos anos de olhar), o que encontro ainda é aquele menino franzino que mal sabia se defender dos meninos maiores da escola e sempre ia “conversar” com a diretora por conta de viver sempre no “mundo da lua”.
Frente às tantas barbáries que me deparo todos os dias no cotidiano, sou obrigado a pensar: “-Ainda bem que aquele menino não cresceu!”, e continua de algum modo lá dentro, sonhando e tentando realizar um mundo com cores e formas diferentes.
Nesse processo de invenção contínua de mim mesmo, o que percebo é que hoje consigo aceitar sem medo as mudanças, e vejo nelas momentos extremamente produtivos.
Já não tenho mais vontade de transformar o mundo, mas não perco nunca as esperanças em melhorar pelo menos parte dele. Tenho tentado ouvir mais as pessoas e aprender que nem todas pensam como eu, mas nem por isso o que elas pensam não pode ser válido. Aprendi a dar sem esperar nada em troca e a receber sem me sentir na obrigação de retribuir. Apaixono-me todos os dias por uma imagem ou por uma música e adoro flores, mas não consigo cuidar delas. Ainda aprendo essa arte! Amo meu trabalho e se não pudesse dar aulas seria um mochileiro-viajante. Tenho pensado em casar e adotar uma criança, embora por muito tempo tenha tido a convicta idéia de viver completamente só em uma montanha, longe da cidade. Aprendi a gostar de cachorros dentro de casa, aprendi a deixar a louça na pia quando não posso lavar, mas ainda não consigo acordar tarde sem sentir uma pontinha de culpa por não ser ‘produtivo’, ainda que adore acordar cedo e sentir o cheirinho da manhã. Aprendi que quando está muito quente num dia é porque provavelmente vai chover no outro, aprendi a me respeitar antes de esperar que qualquer outra pessoa me respeite, aprendi que nem todos os filmes vão dar conta da história que está nos livros e que cada dia pode ser particularmente especial - isso só depende de mim, sempre. Aprendi a desenhar o mundo como ele é, mas prefiro sempre inventar o meu próprio, aprendi a cozinhar e procuro fazer isso sempre que posso, aprendi a chorar quando tenho vontade, a dançar quando meu corpo pede e também aprendi a morrer de rir quando tudo parece não ter solução alguma. Descobri que é possível amar e ser amado à distância e nunca apreciei tanto o luar e o pôr-do-sol como ultimamente. Não vivo sem café e chocolate, não me imagino sem desenhar escritas e escrever desenhos e espero que no ano que vem, tenha aprendido muitas outras coisas a mais. E que tudo isso, tenha mais uma vez valido a pena.



p.s. A imagem (fote: http://www.flickr.com/) que acompanha essa postagem é a fotografia de um dos integrantes do grupo 'O teatro mágico' que vale muito a pena conferir e que tem um trabalho interessantíssimo unindo música, performance, poesia e uma viualidade de encher os olhos. Tive contato com esse grupo através de um vídeo que ganhei carinhosamente de presente de um amigo na tarde chuvosa do meu aniversário. Segue link para quem quiser conferir: <http://www.youtube.com/watch?v=MB9qzKnJVVo&feature=PlayList&p=7BA54F34BF1633EC&index=0&playnext=1>

pé de jabuticaba

Num domingo desses, depois de um delicioso almoço na casa da vó, parei por um instante de baixo do pé de jabuticaba que tanto assistio minhas brincadeiras na infância e fiquei por alguns minutos pensando:
"- O pé de jabuticaba é que está caindo, ou foi o mundo que se inclinou?"

Aí percebi... o tempo passa...

Imagem: Cristian Mossi

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

se um dia você quiser...

Se um dia você quiser eu fujo... Só com você. Levo-te para um lugar bem longe, onde só se possa ver o céu e a linha do horizonte sem fim. Onde só exista o som de nossos corações afoitos e a luz de nossas intrépidas almas a procura de se amar, cada vez mais.
Se um dia você quiser eu aprendo a voar, e te levo até as estrelas fazendo piruetas perto do sol, agarro um planeta e decoro ele só pra você. Se um dia você quiser eu roubo a lua, guardo-a numa caixinha e deixo-a iluminando somente o fundo dos teus olhos, até você dormir, lentamente, com aquele semblante que eu adoro, feito criança que esqueceu de crescer.
Se um dia você quiser eu velo seu entardecer, e pinto o céu todo em tons de lilás, pra alegrar a noite que se segue e traz com ela um instante de ilusão que, feito menino levado, esquece de durar pra sempre.
Se um dia você quiser eu finjo que esqueço de te amar por algum tempo, só pra depois poder voltar e te conquistar outra vez, recontornar a geografia do teu corpo e pensar novamente que é como se fosse a primeira vez, só pra você nunca se cansar.
Se um dia você quiser eu bebo o mar, e embriagado e perdido a teus pés eu repito, que faço tudo que você quiser pra poder pra sempre te amar.

Fonte da imagem: http://vida-de-plastico.blogspot.com

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

retrato



Amar também é estar nos olhos do outro...

Um carinhoso retrato que ensolarou minha tarde nublada e chuvosa!

domingo, 12 de outubro de 2008

completude e vontade

A necessidade do outro não é a minha precisão de seguir em mim mesmo,
mas a vontade e o desejo de abrir-me,
de dar a cara à tapa,
de complementar-me no outro.

Construir a ponte invisível que me conecta ao próximo
e cria laços que suspendem-se por instantes eternos,
afugentando o destino certo e imprescindível da morte,
do desaparecimento de si.

Tocar com infinitas mãos
Comer com todos os sentidos
Sentir com inúmeras peles
Olhar de todos os olhos

É isso que nos contempla e resta!


Imagem: Cristian Mossi

inventar-se

Absorver imagens e cores
Decifrar signos justapostos
Espreitar sonoridades
Inventar-se

Ritmar-se ao som da melodia do cotidiano
Publicar-se entre falas e olhares
Rescindir-se de si mesmo
Inventar-se

Construir-se
Vestir-se
Enfeitar-se
Apaixonar-se

Desenhar-se num exercício cego e pleno
Estranhar a própria voz
Perceber-se em meio a sinais novos na pele
Complicar-se, aceitar-se, explorar-se
(Re)criar-se


Imagem: Cristian Mossi

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

pássaros

Chegando de viagem, uma postagem no meu Orkut me fez ficar com pássaros multicoloridos no pensamento e reacendeu mais ainda minha vontade de voar...

Imagem: Cristian Mossi

domingo, 5 de outubro de 2008

sonata

Preâmbulo (pianíssimo): Tento lembrar-me do futuro, suturar o passado, experimentando docemente o presente até as últimas lágrimas misturadas a sorrisos.
Movimento 1° (solo, para sentidos agudos): Miro com o olhar perdido o horizonte, encontro-me com vontades quase insuportáveis, com saudades até de mim mesmo.


(Pausa) [Redesenho melodias e recrio silêncios transbordados de desejos]

Movimento 2° (dueto, para corações graves): Sinto minha alma leve e tensa, insegura e convicta, afortunada pela melancolia.
Movimento 3° (polifonia, para todos os sentidos): Acordo na madrugada fria e por um instante procuro a ausência que pesa a meu lado na cama.


(Pausa) [Desenho futuros possíveis e me perco no tempo]

Movimento 4° (solo, para mezzo-sentidos): Leio e releio versos tentando achar surpresas até então escondidas. Revejo imagens, ativo lembranças. Espero, espero, espero, (...).
Grand finale: O vazio torna-se compleição e as ingênuas crenças combinadas às sutis invenções da memória fazem da presença algo que poderia ser mantido atemporalmente no entre das horas. O distante torna-se perto, o silêncio torna-se verdade e os anseios em fundir-se num único contorno preferem submergir no tempo que impreterivelmente passa sem culpa.
[Da capo al fine]


Fonte da imagem: http://www.www.karadar.com


sábado, 4 de outubro de 2008

FOLHA de URUBU


folha-de-urubu. S.f. Bras. Amaz. Bot. Trepadeira de caule grosso e rugoso, da família das aráceas (Philodendron laciniatum), de flores dispostas em espádice subssêncil, protegido por espada de tubo exteriormente verde e interiormente vermelho-violáceo, e cujo fruto é baga pequena; guembé. [Pl.: folhas-de-urubu.]


Sete artistas com um objetivo em comum: Divulgar seu trabalho de forma lúdica e de baixo custo. E deu mesmo o que ver, ler, falar, tocar, manusear, rir... e o que se possa imaginar!! Logo, logo a segunda edição... Para colecionadores!

Fotografias: Angélica D'avila

P.S. O meu trabalho é aquele livrinho vermelho da segunda imagem. Confira um pouco do conteúdo na postagem "presença", do mês passado.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

explicar e entender


"Tantas palavras escritas desde o princípio,
tantos traços, tantos sinais,
tantas pinturas, tanta necessidade de explicar e entender,
e ao mesmo tempo tanta dificuldade porque ainda não acabamos
de explicar e ainda não conseguimos entender.”

José Saramago


Fonte da imagem: http://www.photofinish1.blogspot.com


merecimento


Como fazer por merecer um olhar?

Fonte da imagem: http://www.anomalias.weblog.com.pt

domingo, 28 de setembro de 2008

arco-íris

"Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura..."

João Guimarães Rosa
Grande Sertão Veredas

Trecho retirado do álbum Brasileirinho, de Maria Bethânia

Imagem: Cristian Mossi

mais feliz

E em meio a tudo isso, sinto-me feliz. De um jeito que a muito não me sentia. Não porque seja a única vez, nem a última, nem o pretenso, mas porque acho que finalmente entendi (e comprovei) que desse jeito é melhor: não esperar de fora o que só pode ser descoberto em mim mesmo.
Sim! Só me sinto bem agora, porque me permiti... E por tempo indeterminado!
Mais que me permitir, fora deixar que as ocorrências me levassem, sem fazer conjecturas tolas sobre o que adviria a ser, sem medo de parecer bobo, ou pelo menos pouco precavido, ingênuo, louco até.
O que penso agora é que o risco pode ser aceito, sem lavrar contratos que só serão no fundo confirmados com o tempo e com o que ele decidir.
Eu sei. Isso já fora dito diversas vezes (não só por mim), mas muito pouco cumprido. Na verdade o medo sempre me levou em suas asas, mas eu o escondia com um excesso de aparente confiança em mim mesmo. Afinal então, por que não fazer do medo algo produtivo? Já diz o velho ditado: “se não posso com o mal, me junto a ele”.

Por que não me revelar frágil, mas disposto a reconstruir-me constantemente. Talvez essa seja a real forma da força. Sem auto-punições.
Sinto-me leve, me permito enfim. A cada possível decepção, caberá só a mim reconstruir meu próprio castelo de (im)purezas.
Escuto músicas até então deixadas de lado por esse ou aquele motivo, vivo arriscando meus pensamentos, faço planos (mesmo sabendo que eles possam não ser realizados), escrevo coisas de maneiras novas e tenho para mim que este é o melhor, pelo menos por enquanto, pelo menos até descobrir outra via que me leve a qualquer lugar. Sem temor nos “parecimentos” e “endereçamentos”.
Os tempos mudaram e sempre digo que o melhor da vida é poder trocar de opinião sobre as coisas. Ela não precisa ser tão certa, tão hermética. O modo como me reconheço já é outro. Menos convicto, menos castrador. Bem mais feliz.


Imagem: Cristian Mossi

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

palavras 'embrulhadas' pra presente


"Carta de Amor" de Alexis Gorodine

Fonte: http://www.
bibliotecavilarinho.blogspot.com

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

ah! o amor...

"Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção. Pode ser a pessoa mais importante da sua vida. Se os olhares se cruzarem e neste momento houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu. Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante e os olhos encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês. Se o primeiro e o último pensamento do dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente divino: o amor."

Carlos Drummond de Andrade

Imagem: Cristian Mossi, sobre fotografia de Lais Chiodelli

domingo, 14 de setembro de 2008

presença

Bom, depois de três posts seguidos sobre a questão da ausência (que, claro, tem mechido muito comigo ultimamente), aí está o projeto de um pojeto que ainda não tem nome, mas que está muito presente ultimamente... E vai dar o que ler, ver, falar, etc...
Prometo contar mais detalhes depois...

sábado, 13 de setembro de 2008

ausência

"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada,
aconchegada nos meus braços, que rio e danço e
invento exclamações alegres, porque a ausência,
essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim."

Carlos Drummond de Andrade

Fonte da imagem: http://www.niilismo.net

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

ingênuo

Eu não sei... Tem dias tão estranhos que o coração até fica daquela cor cinza-pesado, que nem céu em dia de mormaço e chuva. Saudade não é bem a palavra a ser dita. Mais que isso, abre-se um vazio, uma ausência mórbida que mesmo envolta em promessas fáceis (as quais até se fazem crer ingenuamente), impõem medo pelo porvir incerto. Vontade de largar tudo. De não estar, de entregar-me ao feixe de luz que tem me iluminado na saga destes dias. Ah! Se soubéssemos viver de verdade, sem amarras... Se pudéssemos ao menos. Ainda a distância. Olho para o céu... Ele não está afinal em todo o lugar?

Fonte da imagem: http://www.omuroeoutraspgs.blogspot.com

terça-feira, 9 de setembro de 2008

inexplicável

E o que era presença em meio à ausência, tornou-se presença intensa e pulsante. Real. E fita-me da cor de um verde precioso e sincero, que ao som da promessa composta por palavras feitas, e não menos novas, a cada instante ressoa a melodia que embala e aquece os corpos ( e os corações). Tristeza boa de sentir. E se faz lembrar a cada caminho, a cada cair do sol, a cada coisa que o mundo oferece ao olhar. O cheiro, o gosto, o toque, tudo se materializa pouco a pouco, de uma delicadeza que costura minuciosamente sorrisos sem motivos próprios. Inexplicável.

Imagem: Cristian Mossi

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

sábado, 30 de agosto de 2008

exercício de estranhamento

1ª fase (básica)

*Sente em um lugar movimentado e barulhento;
*Coloque o mp3 nos ouvidos no modo “reproduzir todas as músicas aleatoriamente”;
*Observe as pessoas movimentando as bocas sem emitir qualquer som e a vida acontecendo silenciosa, tendo por fundo musical somente o que toca a todo volume só para você;

2ª fase (avançada)

*Imagine a música que toca como a trilha sonora dos eventos que acontecem paralelamente. Sinta-se vivo. Tente não pensar em outro lugar, pelo contrário sinta-se o máximo possível onde você está, na situação em que você está;
*Perceba o quanto as coisas parecem ser lindamente estranhas. Frágeis. Perceba o tempo passando por suas veias e os soluços de segundo que simplesmente não param de sussurrar que você está envelhecendo e que tudo o que há ao seu redor não tarda a se desfazer.

A vida é um mistério que não precisa de explicações, mas de questionamento constante...


Imagem: Fotografia de Angélica D'Ávila sobre trabalho de Cristian Mossi

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

astral

Não. Este blog não está abandonado!
Simplesmente ando sem muita vontade de escrever, ou mesmo de procurar uma imagem, um fragmento de música, ou seja lá o que for que tem preenchido esses espaços vazios e inocentes, desde Junho desse ano.
Nada grave... Bem pelo contrário. Ando me sentindo tão bem, tão animado, com a auto-estima lá nas nuvens e uma vontade de chorar daquelas boas, de quando não cabe mais tanta felicidade dentro do peito pelas coisas mais bobas possíveis. Nem um motivo especial... Só uma overdose de ‘boniteza’ da vida... Quase uma depressão profunda às avessas, sem um dispositivo aparente.
Não sou adepto àquelas teorias masoquistas que confiam no ‘fundo do poço’ os dispositivos ideais para criar qualquer coisa que seja. Nem pensar! Mas tenho percebido que quando estou muito bem, quase não passo por aqui...
Quando decidi finalmente iniciar esse espaço, prometi a mim mesmo que não iria me cobrar e que este seria um lugar para depositar os (des)enredos que servem de fundo na difícil tarefa de fazer dessa loucura que é a vida, um lugar pelo menos um pouco mais agradável. Então... fica registrado (o que eu poderia chamar de) um bom momento... E se eu pudesse escolher uma frase para ilustrar, seria aquela de uma das músicas dos Secos e Molhados (que por acaso escuto agora):
“Todas as cores e outras mais, procriam flores astrais...”


Fonte da imagem: Andy Warhol, disponível em http://www.passeiweb.com


sábado, 16 de agosto de 2008

reminiscências


Surge em mim uma nesga de sol...
E entre desconcertos e (des)enredos,
ainda prefiro seguir como se não houvesse lembranças.
Reminiscências que insistem em despontar sem pedir licença.
E duelam docemente com os sorrisos fáceis que se desenham pouco a pouco, mais e mais. Multicolorido. Exatamente (diferente) e igual.

Imagem: Cristian Mossi

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

ilusão

"...o tempo é que vai passar,
a gente só vai rodar,
na mesma ilusão
de recomeçar..."

(Ter que esperar/ Paula Leal - Chicas)

Imagem: Cristian Mossi

suspensão

Suspender um sentimento não é tentar esquecê-lo. Pelo contrário, é colocá-lo em um novo patamar, prolongar sua sonoridade, mantendo-o longe do agreste de nossos intempestivos e incrédulos corações.
Suspender um sentimento é como guardá-lo, cuidadosamente, deixar amadurecê-lo pouco a pouco e esperar que, em sua redoma de intemporalidade, sussurre dia a dia a (in)existência contínua que reveza a força e o vazio das horas.
Suspender um sentimento é descolá-lo do tempo que transforma tudo em coisa – nenhuma. E ri, debochando de nossos infortúnios, humanidades tolas, breves, suspensas também em um código de automatismos que não deixam os sentimentos serem senão suspensos. Senão escravos da razão. Dos limites que ela desenha e redesenha na caminhada sutil, no movimento da areia infinita.
A vida me surpreende mais e mais, a cada novo dia, quando tira e repõe esperanças em minhas mãos, tanto quanto desapossa uma criança de um brinquedo, ou de um doce. Tolices que me fazem crédulo e triste. Mas também que me fazem acreditar que é isso e pronto. Que não há o que ser feito. Que não há mais presente, mas um futuro que dirá o que quer ser.
Por isso suspendo o que sinto como um cristal precioso e único. E fito-o, com uma posição de cuidado e desagrado, tal como o menino que quer voar e, desalento, olha o pássaro e questiona-se do porquê daquela magia... Afinal ela soa tão simples e fácil!
Sigo em minha coleção de cristais e sentimentos suspensos, guardados, mofados, alguns que perdem com o tempo o brilho, outros que reavivam-no mais e mais. Serei eu uma suspensão de vida? Ou será o segredo da vida uma suspensão de instantes que pululam em nosso cotidiano? Nem me atrevo a tentar encontrar a resposta...

Imagem: Cristian Mossi

domingo, 3 de agosto de 2008

de si

Sento-me. Começo então a tecer meus longos mantos de palavras. Não há o que possa ser tão avassalador quanto o universo de signos a pulular em minha mente, a entrar-me e sair-me pelos sentidos, a permitir-me embrenhar por breves significações perante o mundo, sobre todas as coisas que existem e se estendem ao nada. Visíveis, invisíveis. Faço, desfaço, refaço cada ponto, cada trama, cada labirinto de idéias, em todo e qualquer lugar. Vomito devaneios tolos, regurgito incertezas, calculo o som da voz que repassa (ainda que só) a estrada. Depois esqueço. Perco-me onde só há a ausência, onde não posso ver início nem final. Acaricio-me lentamente tentando com isso encontrar um sentido estúpido. É o que há por fazer.

Imagem: http://gruposeismaisum.blogspot.com

resquícios

Do tanto que sinto, o que resta é a embriaguez, a vertigem, o vazio das horas. Plenas. Momentos tecidos melindrosamente por resquícios de sonho e vida. Uma ardência que fere os dedos, os olhos, a lembrança, a esperança, a vontade de seguir em frente, mesmo que em passos lentos e ponderados.
Agora o que sobra é o gosto amargo, movimentos ritmados, de um tempo automático e sem modos de percepção plena das coisas. É um soluço, um filme sem roteiro, um nada-a-mais.

Posso então ver o mundo por janelas diferentes.


Imagem: Cristian Mossi

segunda-feira, 28 de julho de 2008

outras cores

Ontem, depois do almoço de domingo na casa da vó, fui até a horta colher bergamota e ameixa de inverno do pé para comer sob o sol. Dia tão lindo. Depois me sentei num banco e fiquei tentando sentir aquele momento como se fosse o último. Alento para dias que pareciam estar tão gris e estranhos. Pensei que quando era criança e brincava na grama daquele pátio as árvores pareciam tão maiores, tudo parecia ser tão mais perigoso e o tempo parecia passar tão mais devager! Tinha a impressão que seria eternamente aquela criança faceira...
Meu dia ganhou outras cores. Melhores até.
Fonte da imagem: http://spaces.live.com

quinta-feira, 24 de julho de 2008

não-porvir

Por vezes sinto-me como se tivessem me tirado o chão e me cortado as asas. Assim, caio num labirinto sem fim onde tudo encontra-se ao avesso e estranhamente absurdo. Desejos, sabores, cores que um dia foram freneticamente vibrantes e especiais, agora escorrem pelas superfícies e paredes de minha fértil imaginação.
Sempre fui assim. Dou-me por inteiro ao devaneio de tudo, nem que seja para depois me sentir assim como me sinto agora. Mas nunca espero o pior. Aí é que está.
Não gosto de nem uma das formas de pretérito, especialmente aquelas que lamentam o que poderia ter sido e não foi. Talvez por isso sempre me atire de cabeça. Felizes daqueles que conseguem ver essa loucura que é o mundo de suas breves redomas de razão e fazer de suas tolas humanidades partituras calculáveis do sentir.
Contando as horas para um não-porvir, sigo em meu silêncio cheio de palavras a serem ditas.
Fonte da imagem: http://ribeiranegra.blogspot.com

domingo, 20 de julho de 2008

em si


Este texto não tem um assunto específico. Ou melhor, seu assunto não é nada além dele mesmo. Ele é simplesmente ele. Faz-se ao avesso de qualquer outro texto que, com seus pequenos algarismos de significação justapostos, transcende a simples forma-palavra-corpo-signo, passando a existir além do universo do campo-documento. Este texto não discute valores intra-pessoais, tampouco quer elucidar formas de contribuir para a paz mundial, de melhorar a aliança desalenta entre os homens, ou o que quer que seja. Este texto não discute nem mesmo a ele próprio. Ele quer não se parecer com nada, existir em sua faceta sem significado. Este texto diz de tudo e ao mesmo tempo não diz de nada. Ele não (se) propõe (a) nada. Se fecha em si. Acaba nele mesmo, morde o próprio rabo. É o triunfo da endogenia - surge e termina nele. Não questiona nada, não proclama absolutamente nada, não ofende a nada, nem sequer almeja um resquício de carinho ou uma identificação plena capaz até de fazer emocionar o mais rijo coração. Não guarda nem um átomo de poesia, nem sequer de técnica. Não contribui, não desmerece, não cansa. Seu leitor não terá perdido nada depois de ler este texto, mas também não terá apreendido nada. A não ser que este texto guarda em si um silêncio. E que às vezes o silêncio, guarda em si ainda muitas palavras por dizer.

Fonte da imagem: http://www.10emtudo.com.br