A vida tem dessas coisas. Um dia você acorda e a pessoa por quem você viu mais de trezentos pores-do-sol simplesmente decide que não vai mais andar ao seu lado. Não importa que, como a meses, ela tenha sido seu primeiro pensamento bom pela manhã, nem que em pouco tempo vocês fariam aniversário e você tinha comprado um lindo presente para ela. Não importa que todas as mais lindas músicas que você escutou até hoje tenham feito você lembrar o quanto era feliz, nem que essa pessoa tenha transformado sua vida numa coisa que você insiste em pensar que era a melhor. Ela não te trará mais flores, nem se preocupará mais com você. Nem chegará mais de madrugada e, sonolenta daquele jeito que você adorava, te dará o abraço mais gostoso do mundo. Essa pessoa não cantará mais para você aquela canção cafona que ficava linda só na voz dela. Um dia você acorda e tudo virou de cabeça para baixo. Suas roupas parecem não servir mais, seu corpo parece não suportar você, sua mente fica dando voltas intermináveis e não chega a lugar algum. Você não consegue dormir, a comida parece não ter o mesmo sabor. Um dia você acorda e queria tanto que tudo tivesse sido um sonho ruim. Seu telefone não toca mais, seu Orkut não recebe mais nenhum recado carinhoso, você não tem mais para quem ligar, nem pode fazer mais planos para o futuro. Você não pode mais sonhar com uma casa cheia de telhados, seis cachorros e um vazo de estrelícias. Você simplesmente tem que se conformar que não poderá dormir mais de conchinha com aquela pessoa, nem trocar qualquer programação do mundo por um filme e um sofá. Não importa o que você faça, a tal pessoa terá destruído tudo o que você almeja e um pouco mais. Terá desembarcado do sonho conjunto sozinha, e te deixará seguir o caminho sem nem se preocupar em que estação você irá descer. Um dia você acorda e cada canto do seu quarto será o lugar mais dolorido do mundo para você. Por um bom tempo você não andará mais na rua em paz, mas todo e qualquer caminho que você faça lembrará você que agora está sozinho. Um dia você acorda mas preferia nem acordar até que a dor passasse. E se transformasse em centenas de borboletas...
A explosão de cores dos recortes de Matisse para dizer da minha alegria de ultimamente... Alegria com ar de esperança, transformação e crença no porvir. Quero gostar cada vez mais do que sempre venho a me tornar...
Esperar carona, Esperar a chuva passar, Esperar do outro mais do que ele pode me dar.
Esperar aquele programa na TV, Esperar a data, Esperar visita, Esperar o filme entrar em cartaz.
As esperas me consomem mas me constroem. Na medida que espero me descubro, me refaço, me frustro e descubro que a hora certa não é aquela que espero, mas a que acontece.
Certo conformismo que não me faz desistir de esperar.
Era aquilo e só. Estirado no colchão e a anestesia das horas a me passar dos pés à cabeça. Sentia como se meu corpo se transformasse lentamente em algo que já fui, mas que ainda não experimentei. Não desse jeito. Não com tanta crueldade. Era aquilo e só. Uma dor que eu mesmo causei e que só e somente eu poderia amenizar. Não curar completamente. Porque as marcas, estas sim, ainda que nunca me façam aprender o que eu preciso de uma vez por todas, continuam latentes. Era aquilo e só. Agora é remontar todo o quebra-cabeça com extremo cuidado, preparando-se para as próximas tempestades. Do ponto que parei, ou de outro ponto qualquer, isso não importa. O que importa é que, via de regra, sempre sei no fundo das minhas próprias necessidades... E sei que, por tudo o que se pode ver e ler no mundo como um motivo para terminar, também há sempre outro para recomeçar.
Quisera eu, ficar assim, aconchegado dentro em mim, para sempre.
Quisera eu escapar desse mundo que prende e mostra, que o céu azul e o lago com cisnes das antigas garatujas infantis, não revelam o absurdo que Nietzsche já falara a algum tempo...
Não sei quem eu sou exatamente, mas posso dizer que não sou alguém que tem certeza disso.
Minha mente de menino prefere sempre acreditar que existe um monstro com mil tentáculos vivendo embaixo da minha cama.
Tenho prazer em acordar bem cedo e sentir o aroma de café preto...
Olhar o pôr do sol, passar o tempo desenhando, lendo, ouvindo alguém ou alguma música que me diga muito ( e às vezes muito sobre mim).
Me apego fácil.
Nesse processo de (re)(des)construção contínua, só posso me sentir como partículas mutantes, espaços em aberto, dobras interconexas que ora me definem, ora me ofuscam.
Adoro tempestade. Me sinto renovado pela mudança que ela traz. Mas tenho medo do que não dura pra sempre.
Uma vez eu disse:
“De que adianta pintar meu universo de cinza, se sou daqueles que rabiscam o céu e nele colocam um pouquinho de sol, de estrela e de mim?”
E continuo acreditando nisso.