domingo, 29 de junho de 2008
azul n°2
"esse episódio da imaginação a que chamamos realidade.
Há dois dias que chove e cai do céu cinzento e frio uma certa chuva, da cor que tem, que aflige a alma. Há dois dias...Estou triste de sentir, e reflicto-o à janela ao som da água que pinga e da chuva que cai. Tenho o coração opresso e as recordações transformadas em angústias.
Sem sono, nem razão para o ter, há em mim uma grande vontade de dormir. Outrora, quando eu era criança e feliz, (...). Nunca, nos dias de chuva, se lhe entrestecia o dizer, e clamava, sem dúvida do abrigo, um qualquer sentimento constante, que pairava na tristeza como um gramofone antecipado."
(Fenando Pessoa em O livro do desassossego)
Imagem: Gravura de Oswaldo Goeldi / Disponível em: http://www.oglobo.globo.com
sexta-feira, 27 de junho de 2008
fermata
É difícil entender...
Mas as pessoas vivem em tempos tão diferentes,
cada um tocando sua melodia.
E seria um crime tentar compassá-las a mesma pauta dos dias.
Afinal,
é de suas diferentes notas de falar,
pausas de escutar,
claves de perceber,
ritmos de andar
que surge essa canção sem nexo que é o mundo.
Imagem: Cristian Mossi
Mas as pessoas vivem em tempos tão diferentes,
cada um tocando sua melodia.
E seria um crime tentar compassá-las a mesma pauta dos dias.
Afinal,
é de suas diferentes notas de falar,
pausas de escutar,
claves de perceber,
ritmos de andar
que surge essa canção sem nexo que é o mundo.
Imagem: Cristian Mossi
quinta-feira, 26 de junho de 2008
porvir
Hoje, pelo soluço de um instante,
olhei-me para dentro (daquele modo que nos olhamos poucas vezes na vida)
e percebi que já não tenho tanto medo do futuro.
Já não entendo o porvir como um monstro ancioso por devorar-me.
As horas de sono perdidas fizeram-me aprender a esboçar os contornos do agora entendendo que o amanhã prefere repousar em seu contínuo sono de devir...
E nada que eu tente fadar ao depois poderá ser recompensado com um sopro histérico de decepção
Pois tudo que tanto me prende, não é nada aos olhos traídos da razão.
Não essa razão inoportuna daqueles que pensam que sabem do essencial.
Mas uma razão própria das coisas que não pode ser explicitada aos nossos intempestivos corações.
E continuo aprendendo...
Imagem: Cristian Mossi
terça-feira, 24 de junho de 2008
azul
domingo, 22 de junho de 2008
eu e mim
Eu que me desculpe! Detesto dizer isso, mas tenho estado tão cansado da minha companhia ultimamente. Não sei exatamente o porquê, mas acho que é pelas tantas vezes que retorno ao mesmo assunto comigo mesmo. Tento mudar, falar sobre outras coisas, me proporcionar sensações desconhecidas, mas não adianta. Quando vejo lá estou eu novamente batendo na mesma tecla, tentando aparar as arestas que a muito já foram superadas.
Não que eu seja de dispensar companhias assim, sem mais nem menos. Bem pelo contrário...Quem me conhece sabe que não gosto muito de estar só. Preciso de alguém ao meu lado, nem que seja eu mesmo.
Mas ultimamente tenho deixado tanto a desejar!
Tenho me dado alguns toques, com muita cautela pra não me magoar. Mas tem sido muito difícil...Eu não sei escutar quando não quero, quando me convém. Faço de conta que não é comigo.
Tenho que dar um jeito nisso! Afinal são tantos anos juntos, eu e mim, não posso desperdiçar essa amizade e deixar tudo ir pro espaço por uma bobagem como essa.
É, eu sei. Talvez eu não esteja numa fase muito compreensiva, talvez tenha que me agüentar por mais um tempo, tentar mais um pouco, enfim, esperar. Talvez se tudo isso tivesse acontecendo em outro momento, eu nem perceberia. Passaria apenas como um dia ruim, como uma falta de sintonia.
Eu sei. Isso já ocorreu outras vezes e superamos. Eu e mim depois ríamos juntos de tudo, voltávamos a nos dar como se nada tivesse acontecido. É que quando os dois não estão muito bem a coisa começa a ficar complicada e não conseguimos nos ajudar.
Não que eu seja de dispensar companhias assim, sem mais nem menos. Bem pelo contrário...Quem me conhece sabe que não gosto muito de estar só. Preciso de alguém ao meu lado, nem que seja eu mesmo.
Mas ultimamente tenho deixado tanto a desejar!
Tenho me dado alguns toques, com muita cautela pra não me magoar. Mas tem sido muito difícil...Eu não sei escutar quando não quero, quando me convém. Faço de conta que não é comigo.
Tenho que dar um jeito nisso! Afinal são tantos anos juntos, eu e mim, não posso desperdiçar essa amizade e deixar tudo ir pro espaço por uma bobagem como essa.
É, eu sei. Talvez eu não esteja numa fase muito compreensiva, talvez tenha que me agüentar por mais um tempo, tentar mais um pouco, enfim, esperar. Talvez se tudo isso tivesse acontecendo em outro momento, eu nem perceberia. Passaria apenas como um dia ruim, como uma falta de sintonia.
Eu sei. Isso já ocorreu outras vezes e superamos. Eu e mim depois ríamos juntos de tudo, voltávamos a nos dar como se nada tivesse acontecido. É que quando os dois não estão muito bem a coisa começa a ficar complicada e não conseguimos nos ajudar.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
medo bom
Ontem, depois de uma semana super cansativa,
fiz ressurgir a criança em mim e fui ao parque de diversões.
Deixei-me assustar no trem fantasma,
sentir aquela sensação aguda na boca do estômago
quando a roda gigante para lá no alto,
dar boas gargalhadas no carro-choque.
Tão bom ver a cidade de outros ângulos, permitir-se sentir aquele medo bom na montanha russa e esquecer de tudo além do vento gelado no rosto por causa da velocidade do chapéu mexicano.
Por que será gostamos tanto de superar nossos limites nesses brinquedos que fazem com que a gente se sinta pequenas peças de playmobil?
Seria para permitir-se o frio na barriga, tão reprimido no cotidiano?
Fonte da imagem: oblogdanginha.weblogger.terra.com.br
fiz ressurgir a criança em mim e fui ao parque de diversões.
Deixei-me assustar no trem fantasma,
sentir aquela sensação aguda na boca do estômago
quando a roda gigante para lá no alto,
dar boas gargalhadas no carro-choque.
Tão bom ver a cidade de outros ângulos, permitir-se sentir aquele medo bom na montanha russa e esquecer de tudo além do vento gelado no rosto por causa da velocidade do chapéu mexicano.
Por que será gostamos tanto de superar nossos limites nesses brinquedos que fazem com que a gente se sinta pequenas peças de playmobil?
Seria para permitir-se o frio na barriga, tão reprimido no cotidiano?
Fonte da imagem: oblogdanginha.weblogger.terra.com.br
quinta-feira, 19 de junho de 2008
coisas do (não) mundo
quarta-feira, 18 de junho de 2008
...dizem que os que morrem no deserto vão para o mar
Erêndira, com direção de Cláudia Schulz, fez-me chorar e sorrir ontem a noite no Teatro Treze de Maio, em Santa Maria/RS.
Uma menina de olhar profundo,
uma avó que caminha na tênue linha entre o amor e a amargura,
um anjo vestido de menino
e alguns outros personagens que, com delicadeza (a delicadeza do teatro),
refletem o que há de mais humano,
em meio a sordidez e a graça.
Graça que nos causa o estranhamento de sermos quem somos.
Gestos ritmados,
suspiros envoltos em silêncios e pausas.
Cada objeto, cada entonação de voz,
acontecimentos que beiram o absurdo e a loucura
contam uma estória (poder-se-ia dizer de quase-amor) que se pretende,
antes de um conto de fadas,
estilhaços de porvires ecoando no espaço estéril do tempo.
Fotografia: Cláudia Schulz
Uma menina de olhar profundo,
uma avó que caminha na tênue linha entre o amor e a amargura,
um anjo vestido de menino
e alguns outros personagens que, com delicadeza (a delicadeza do teatro),
refletem o que há de mais humano,
em meio a sordidez e a graça.
Graça que nos causa o estranhamento de sermos quem somos.
Gestos ritmados,
suspiros envoltos em silêncios e pausas.
Cada objeto, cada entonação de voz,
acontecimentos que beiram o absurdo e a loucura
contam uma estória (poder-se-ia dizer de quase-amor) que se pretende,
antes de um conto de fadas,
estilhaços de porvires ecoando no espaço estéril do tempo.
Fotografia: Cláudia Schulz
terça-feira, 17 de junho de 2008
O senhor das horas...
Sempre chega a hora da solidão
Sempre chega a hora de arrumar o armário
Sempre chega a hora do poeta a plêiade
Sempre chega a hora em que o camelo tem sede
O tempo passa e engraxa a gastura do sapato
Na pressa a gente nem nota que a Lua muda de formato
Pessoas passam por mim pra pegar o metrô
Confundo a vida ser um longa-metragem
O diretor segue seu destino de cortar as cenas
E o velho vai ficando fraco esvaziando os frascos
E já não vai mais ao cinema
(...)
A idade aponta na falha dos cabelos
Outro mês aponta na folha do calendário
As senhoras vão trocando o vestuário
As meninas viram a página do diário
O tempo faz tudo valer a pena
E nem o erro é desperdício
Tudo cresce e o início
Deixa de ser início
E vai chegando ao meio
Aí começo a pensar que nada tem fim...
(O avesso dos ponteiros - Ana Carolina)
Fotografia: Angélica D'Ávila
Sempre chega a hora de arrumar o armário
Sempre chega a hora do poeta a plêiade
Sempre chega a hora em que o camelo tem sede
O tempo passa e engraxa a gastura do sapato
Na pressa a gente nem nota que a Lua muda de formato
Pessoas passam por mim pra pegar o metrô
Confundo a vida ser um longa-metragem
O diretor segue seu destino de cortar as cenas
E o velho vai ficando fraco esvaziando os frascos
E já não vai mais ao cinema
(...)
A idade aponta na falha dos cabelos
Outro mês aponta na folha do calendário
As senhoras vão trocando o vestuário
As meninas viram a página do diário
O tempo faz tudo valer a pena
E nem o erro é desperdício
Tudo cresce e o início
Deixa de ser início
E vai chegando ao meio
Aí começo a pensar que nada tem fim...
(O avesso dos ponteiros - Ana Carolina)
Fotografia: Angélica D'Ávila
segunda-feira, 16 de junho de 2008
tempo despetalado
Porque vivemos, nos encantamos
Nos encantamos com coisas simples
Nos encantamos com novos mundos
Palácios homéricos
Com uma flor
Perdemo-nos de vista
E nos encantamos com o cintilar do passar do tempo
Este que tanto nos desencanta
Lembrança para soterrar a saudade
Coragem para entorpecer o medo
Esperança para aquecer nossos humanos e desmedidos corações
Fotografia: Carla Souza
Nos encantamos com coisas simples
Nos encantamos com novos mundos
Palácios homéricos
Com uma flor
Perdemo-nos de vista
E nos encantamos com o cintilar do passar do tempo
Este que tanto nos desencanta
Lembrança para soterrar a saudade
Coragem para entorpecer o medo
Esperança para aquecer nossos humanos e desmedidos corações
Fotografia: Carla Souza
Sabor da Infância
Me encanta como certos sabores, cheiros e percepções são capazes de nos transportar a tempos passados.
Meu domingo a tardinha foi invadido por minha infância, através de uma bala de banana oferecida por uma amiga.
Meu domingo a tardinha foi invadido por minha infância, através de uma bala de banana oferecida por uma amiga.
Me fez lembrar a frase de João Guimarães Rosa, presente no CD da Maria Bethânia (Brasileirinho) que diz:
'Felicidade se acha em horinhas de descuido'
domingo, 15 de junho de 2008
Idas e Vindas
Anjo Azul
Relembrando hoje meus tempos de serenata em Erechim/RS, recordei uma canção singela e linda, chamada Soleado de Moacyr Franco.
Segue a letra que fala de um sentimento que soa como oração, em meio a brumas e anjos azuis...
De muito longe vem uma canção
Suavemente como uma oração
E um anjo azul entre bruma e véu
Veio abrir pra nós os portões do céu
E ao céu chegamos como quem morreu
Trazendo amor, o resto se perdeu
Somos pássaros, livres da prisão
Soltos no infinito, sobre a imensidão
De muito longe, vem essa canção
Fazer um só, nosso coração
Vê comigo,vê, daí a tua mão
Vem andar no céu com os pés no chão
A nuvem branca são os sonhos meus
O sol que aquece são os beijos teus
E as estrelas são a felicidade
É o nosso amor, toda eternidade
Prá muito longe vai essa canção
Rasgando o céu como uma oração
Ela vai dizer ao seu coração
Que eu te quero mais
Mais que a salvação
Fonte da imagem: blog.cancaonova.com
rosamarela
sábado, 14 de junho de 2008
(des)enredos
Para iniciar, estou postando um texto que, além de dar o nome para o blog, tem tudo a ver com a cara que quero para ele de agora em diante...Registros de mudanças... Mudanças, transformações, desafios, enfim, (des)enredos, idas e vindas que fazem a gente viver e sentir-se vivos...
O tempo desenhou nas dobras de meu corpo a coragem,
o espelho,
o enredo de um quase filme,
quase sombrio.
Sulcou-me a vontade imensa de estar,
de voar,
de ouvir a canção efêmera dos instantes e das horas ...
As horas!
Nada pode ser tão melancólico e fugaz.
(des)enredando-me vou vivendo...
ora mais, ora menos, mas sempre vivendo
fonte da imagem: http://updateordie.com
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