segunda-feira, 11 de agosto de 2008

suspensão

Suspender um sentimento não é tentar esquecê-lo. Pelo contrário, é colocá-lo em um novo patamar, prolongar sua sonoridade, mantendo-o longe do agreste de nossos intempestivos e incrédulos corações.
Suspender um sentimento é como guardá-lo, cuidadosamente, deixar amadurecê-lo pouco a pouco e esperar que, em sua redoma de intemporalidade, sussurre dia a dia a (in)existência contínua que reveza a força e o vazio das horas.
Suspender um sentimento é descolá-lo do tempo que transforma tudo em coisa – nenhuma. E ri, debochando de nossos infortúnios, humanidades tolas, breves, suspensas também em um código de automatismos que não deixam os sentimentos serem senão suspensos. Senão escravos da razão. Dos limites que ela desenha e redesenha na caminhada sutil, no movimento da areia infinita.
A vida me surpreende mais e mais, a cada novo dia, quando tira e repõe esperanças em minhas mãos, tanto quanto desapossa uma criança de um brinquedo, ou de um doce. Tolices que me fazem crédulo e triste. Mas também que me fazem acreditar que é isso e pronto. Que não há o que ser feito. Que não há mais presente, mas um futuro que dirá o que quer ser.
Por isso suspendo o que sinto como um cristal precioso e único. E fito-o, com uma posição de cuidado e desagrado, tal como o menino que quer voar e, desalento, olha o pássaro e questiona-se do porquê daquela magia... Afinal ela soa tão simples e fácil!
Sigo em minha coleção de cristais e sentimentos suspensos, guardados, mofados, alguns que perdem com o tempo o brilho, outros que reavivam-no mais e mais. Serei eu uma suspensão de vida? Ou será o segredo da vida uma suspensão de instantes que pululam em nosso cotidiano? Nem me atrevo a tentar encontrar a resposta...

Imagem: Cristian Mossi

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