A sutileza presente na carcaça fria das palavras, às vezes dói. Não porque a palavra, própria, ela assim em sua aparência revestida de corpo-signo se faça machucar gratuitamente, mas porque de fato ela dói uma dor que não se entende. Dor de quem a espreita ingenuamente. Penetra seus retornos. Infere seus tracejados, seus acentos, seus pontos e remeche a ferida aberta. Às vezes abre feridas que nem existiam , mas que a palavra, essa delicadeza cruel, consegue impor. Ninguém sabe o que esconde o véu sórdido das palavras, nem sabe por que ela tanto dói. Só se sabe que ela se faz doer nos momentos mais impróprios e que pode se apagar em matéria, mas sua marca se reveste de uma dor mais doída e mais imprópria, que só aumenta com o passar do tempo. Espécie de rancor. A palavra: melhor imagem do diabólico. Tão atraente e tão traiçoeira quanto se pode imaginar.
Quisera eu, ficar assim, aconchegado dentro em mim, para sempre.
Quisera eu escapar desse mundo que prende e mostra, que o céu azul e o lago com cisnes das antigas garatujas infantis, não revelam o absurdo que Nietzsche já falara a algum tempo...
Não sei quem eu sou exatamente, mas posso dizer que não sou alguém que tem certeza disso.
Minha mente de menino prefere sempre acreditar que existe um monstro com mil tentáculos vivendo embaixo da minha cama.
Tenho prazer em acordar bem cedo e sentir o aroma de café preto...
Olhar o pôr do sol, passar o tempo desenhando, lendo, ouvindo alguém ou alguma música que me diga muito ( e às vezes muito sobre mim).
Me apego fácil.
Nesse processo de (re)(des)construção contínua, só posso me sentir como partículas mutantes, espaços em aberto, dobras interconexas que ora me definem, ora me ofuscam.
Adoro tempestade. Me sinto renovado pela mudança que ela traz. Mas tenho medo do que não dura pra sempre.
Uma vez eu disse:
“De que adianta pintar meu universo de cinza, se sou daqueles que rabiscam o céu e nele colocam um pouquinho de sol, de estrela e de mim?”
E continuo acreditando nisso.
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